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Minha vida, minha responsabilidade

13/03/2020

Depois de um namoro longo, dois anos morando juntos, casei aos 26 anos. Casei por amor, feliz da vida, acreditando que era pra sempre. Depois de dois anos, decidimos que era o momento de termos nosso filho e engravidei. Porém, durante a gestação meu então marido entrou em um quadro de depressão profunda associada ao alcoolismo. Ele deixou o emprego promissor que tinha e também a faculdade.  Quando pensamos em alcoolismo costuma vir a ideia de uma pessoa violenta, mas no meu caso foi muito diferente. Ele era extremamente amoroso comigo e com o bebê que estava na minha barriga, mas faltava aos compromissos, esquecia de me buscar nos exames e não controlava mais o ímpeto pelo álcool. 

 

Por sorte ele pediu ajuda e deu início a um tratamento psiquiátrico. Mesmo assim os últimos meses de gestação foram difíceis. Ele não trabalhava mais, eu tinha recebem montado meu negócio e ainda nem faturava.  Eu me sentia bem e forte e tinha disposição para lutar por nossa família, mas começava a me preocupar seriamente com o que seria do meu filho e de mim mesma naquelas condições. 

 

Quando nosso filho nasceu, lindo e saudável, foi um sopro de esperança. Ele reuniu forças e decidiu aceitar a sugestão de passar um período internado. Era a oportunidade de se livrar do vício e retomar a vida. Minha família nos cercou de apoio. Parece incrível, mas a pesar de estar vivendo aquele problemão eu me sentia feliz com a chegada do meu bebê e me dedicava a ele. Lembro de entrar na reunião de familiares na clínica em que meu então marido estava internado amamentando e ouvir palavras de incredulidade dos outros participantes, mas pra mim tudo era possível e eu não mediria forças para ajudar o pai do meu filho a dar a volta por cima. Fazia isso por todos, mas especialmente pelo bebê. 

 

Naquela época mantive minhas sessões de terapia e li bastante sobre alcoolismo e outras questões que muitas vezes o acompanham. E decidi que enquanto o pai do meu filho estivesse lutando eu lutaria ao lado dele. 

 

Porém, mesmo após a internação, mesmo tendo recebido novas oportunidades para retomar a vida que havíamos planejado, algo não ia bem. E alguns meses depois, entre lindos momentos de família comecei a perceber pequenas mentiras. As oportunidades recebidas foram abandonadas. Novamente emprego e faculdade haviam sido largados, porém sem que eu soubesse... Quando percebi que dois anos haviam se passado e que eu havia lutado muito mais do que ele, gelei. Me dei conta de que ele não tinha a força de vontade que eu tinha e pior do que isso, seu caráter admitia mentiras. 

 

Reuni todas as minhas forças pela certeza de que precisava ter um rumo saudável a seguir com meu filho. Depois de dois anos naquela luta, eu tinha certeza de que havia tentado, talvez não tudo, mas tanto quanto eu podia. Eu não queria mais travar batalhas que não eram tão minhas. Só com minhas forças não seria possível mudar aquele jogo e eu precisava aceitar isso. E, então falei pra ele que íamos nos divorciar.

 

Jamais envolvi meu filho em discussões, preservei ele ao máximo. Óbvio que errei em algumas situações. Devo ao meu filho a inspiração para ter tomado uma decisão difícil. Foi difícil ter que desfazer todos os planos que eu havia feito com a pessoa com quem eu havia casado por amor. Mas era minha responsabilidade aceitar que as coisas haviam mudado e que não haviam esforços além dos meus. Assumi a responsabilidade pela minha separação. No meu íntimo assumi também que eu não contaria com o pai do meu filho para nada além do que viesse espontaneamente. Hoje meu filho tem idade de compreender as coisas como elas são e reafirmo  o que sempre disse a ele: Fui eu quem quis o divórcio, porque percebi que a vida ao lado do pai dele não seria a vida que eu queria pra mim. 

 

As vezes ouço o relato de mulheres que são "culpadas" por terem "destruído" suas famílias. Sempre digo que não há nenhum problema em assumir a responsabilidade pela separação. Podemos nos orgulhar quando temos as rédeas das nossas vidas em nossas mãos e não nos sujeitamos a ambientes maléficos para nós e nossos filhos. 

Texto Anônimo

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