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De cara com o autismo

20/12/2019

"Não chora, mamãe. " Foi a frase da minha filha hoje de dois anos que me encheu de ternura.
Em um dia chuvoso, em que ficamos em casa o dia todo com nosso filho autista de quatro anos beira à loucura...
E isso não é exagero nem drama.
É realidade. É um dia em que tu ficas de cara todo o tempo com as instabilidades do autismo, que teu próprio filho, o qual tu amas infinitamente possui.
É extremamente cansativo. Pois tu falas 60 vezes a mesma coisa e a criança continua insistindo em comportamentos inadequados. São várias batalhas num único dia. A porta da geladeira aberta 30 vezes, os objetos ou comidas boiando dentro do vaso, colocar a roupa nele porque está nu mais umas 15, quando tu ouve o barulho do chuveiro mais umas cinco e o encontra molhado, umas 30 vezes colocando as meias, pois o chão está gelado, trocar o desenho da TV de 2 em 2 minutos pois ele não consegue se concentrar, os objetos que joga pra cima, os gritos... muitos gritos e tu repete sem nunca perder a esperança " Não grita"... E sobe em cima da mesa de vidro mais umas 4 vezes, pula, se pendura na TV, assoa o nariz para comer o próprio ranho, e gira, gira no mesmo lugar...
O fato de ficar o dia todo olhando e vivenciando essa sucessão de "Sai dai", "Para", " Não faz" , "Coloca a roupa"... é enlouquecedor. Não é a toa que os terapeutas insistem em dizer que precisamos de uma rede de apoio para nos ajudar.
Ele, na realidade, busca por estímulos sensoriais, constantemente, em algumas dessas ‘situações, pois provoca sensações prazerosas. Pra ele.
E tu pensas... poxa vida, é meu filho e eu não dou conta...
Acho que ninguém dá...
Quero sair correndo, fechar a porta atrás de mim e respirar um pouco. Sozinha.
Mas não faço, respiro fundo e vms adiante nessa jornada que é cansativa, mas tenho consciência de que tudo que vivemos com ele é transformador. É puro. É intenso.
E sinto o cheirinho dele, seu olhar inocente, ... E diz "Mamãe..."e seguimos firme, tentando não perder a sanidade, pois o dia ainda não acabou.

Por Rochele de Nadal, mãe

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Leitura Complementar Blog da Genial Care: Crises em crianças com autismo

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