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E quando amamentar não é possível?

24/08/2020

A relação entre saúde mental materna e a amamentação... 

Sabemos que o incentivo ao aleitamento materno é importante para o aumento do índice de bebês alimentados no peito, mas a que preço? 

Há uma ampla gama de mães que não amamentam os seus bebês pelos mais diversos motivos e cito aqui alguns deles: rede de apoio deficiente, orientação inadequada de profissionais, falta de informação de qualidade, desencorajamento acerca dos benefícios do próprio leite (ele é fraco!), entre outros motivos. 

Não conseguir amamentar o seu bebê pode ser causador de grande frustração para diversas mães e até causador de adoecimento psíquico para muitas delas. As crenças variam de “não sou capaz, sequer, de alimentar meu bebê”, passando por “sou menos mãe, já que não consegui amamentar”, até “meu filho não me reconhecerá como sua mãe, já que qualquer pessoa pode lhe fornecer o alimento”. Sabemos da importância de incentivar a amamentação e dos dados que demonstram que pouquíssimas mães são incapazes de amamentar em termos fisiológicos (cerca de 5%, apenas). Hoje também já temos diversas pesquisas apontando o quanto ela prevenir ou minimizar sintomas de Depressão Pós Parto. 

Porém, a dificuldade de estabelecer o sucesso da amamentação pode também ocasionar o início de sintoma desse mesmo transtorno mental. Sentimentos de menos valia e culpa podem ser potencializados a cada tentativa sem sucesso (por N motivos) de colocar o bebê no peito. É preciso que incentivemos a amamentação, mas nunca perdendo o olhar cuidadoso para a saúde mental da mãe. Por vezes, é preciso captar a exaustão, a angústia e o estresse envolvido em muitas técnicas utilizadas para esse fim, agindo com sensibilidade na aceitação de que, para aquela mulher, não dá mais. 

Além disso, muitas mães acreditam que, por não amamentar, não conseguirão estabelecer o vínculo de amor e apego imprescindível para o desenvolvimento saudável dos bebês na primeira infância. ISSO NÃO É VERDADE! Há muitos momentos em que o vínculo e o apego entre mãe-bebê são estabelecidos e isso depende da disponibilidade psíquica desta mãe, por isso O MAIS IMPORTANTE É QUE ELA ESTEJA BEM EM TERMOS PSICOLÓGICOS. Vamos seguir incentivando a amamentação sim, mas sem o olhar julgador para quem utiliza uma mamadeira para alimentar o seu bebê, já que não sabemos nem a história e nem as batalhas enfrentadas por essa mãe.

A maternagem vai muito além disso. Ofertar uma mamadeira olhando nos olhos, aconchegando seu bebê no colo pode ser até mais promotor de vínculo do que amamentar obrigada, olhando no celular, sem conexão nenhuma durante o momento. Cada mãe sabe até onde consegue ir; cada família sabe sua realidade e a estrada que percorreu para chegar onde está. Amamentar é tudo de bom, mas não a qualquer preço. Sou total incentivadora do aleitamento materno e da doação desse mesmo leite, quando possível. Porém, enquanto profissional que luta pela Saúde Mental Materna, não posso me eximir de falar sobre a sobrecarga contida em muitas campanhas pró-amamentação que acabam por desconsiderar as trajetórias individuais e familiares de cada mulher.

Por Priscila Brasco, Psicóloga Perinatal e Parental, Mestra em Psicologia e Saúde e Mãe do Pietro e da Joanna.

Para conhecer mais o trabalho da Priscila é só acessar o instagram @priscilabrasco_psicoperinatal

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