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Baby Blues e Depressão Pós-Parto: Conceitos e diferenças

31/05/2021

Olá mulheres, olá mães! Alguns textos precisam ser “menos poesia e mais informação”, pois este é um deles. Por isso vamos direto ao assunto? É preciso trazer ao conhecimento das mulheres e de sua rede de apoio que existem alterações importantes e características experimentadas pela mulher logo após o parto que são naturais e esperadas, outras que chamam mais atenção por sua intensidade e outras ainda que podem pôr em risco a saúde física e emocional da puérpera. Vamos diferenciá-las? Observamos alterações naturais e esperadas na mulher após o nascimento do bebê por conta de todo ajuste natural que seu corpo, sua cognição e seu emocional precisam realizar para dar conta dessa nova jornada e como resultado: alterações em seu humor. E quando essas alterações se tornam mais evidentes e começam chamar atenção de quem está mais próximo? Certamente estaremos diante do Baby Blues. E quando ainda mais intensos a ponto de trazer prejuízos ao autocuidado dessa mulher e a maternagem desse bebê? Podemos estar diante de uma Depressão Pós-parto. 

    O Baby Blues também conhecido por “Disforia Puerperal” é caracterizado por uma labilidade emocional (emoções que oscilam muito: se passa facilmente do riso ao choro, da tristeza à satisfação, altos e baixos) que surge em torno do terceiro dia após o parto ou quando a mulher volta para casa e se depara com as necessidades reais suas e de seu bebê. Não é uma condição que mereça intervenção e cerca de 85% das mulheres passam pelo Baby Blues. É um momento normal e esperado para a maioria das mulheres. Alguma tristeza e picos emocionais nos primeiros 45 dias é normal, mas se essa condição persistir é recomendado procurar um profissional para esclarecer e, se necessário, realizar alguma avaliação do quadro.

O estresse está mais elevado, a mãe ainda está conhecendo o novo integrante da família, está privada de seu sono habitual (o que pode lhe deixar irritada, nervosa), seu organismo está funcionando diferente após um parto natural ou está no pós-operatório de uma cesariana, a amamentação pode deixá-la esgotada, pode sentir-se irritada pelo cansaço, ter pessoas que estão presentes muitas vezes sem sua vontade é fator estressor, ter de lidar com o que chamamos de “tornar-se uma mãe invisível” não é fácil, pois é comum que todas as atenções se voltem somente ao bebê, há os picos hormonais deste período, a sensação de invasão de sua privacidade e palpites vindos de diferentes pessoas. Ou seja, um universo de situações que lhe afetam. A boa notícia é que será um momento em que a mulher irá passar de forma adaptativa, irá suportar e tenderá a sair desse estado tão logo comece a ajustar-se melhor a sua nova vida. É raro a necessidade de intervenção e/ou tratamento com psicoterapia, na maioria das vezes é suficiente oferecermos um acolhimento e ouvi-la com empatia. A psicoeducação também serve como uma boa estratégia de suporte para que ela sinta-se capaz de lidar com tudo o que está experimentando.

Muitas vezes o Baby Blues é confundido com a Depressão Pós-parto pelo desconhecimento dessa condição, mas se diferencia por não ultrapassar muito mais do que 45 dias e não apresentar sintomas em intensidade e persistência importantes (como choro muito frequente, dificuldade em cuidar e encarregar-se do bebê, recusa em cuidar-se, comportamentos que indiquem risco a sua integridade, necessidade constante de isolamento); o cansaço e os sintomas mais negativos não sobrepõem as sensações e sentimentos positivos também presentes e não impede em nenhum momento dessa mulher encarregar-se e cuidar de seu bebê (principal diferença na Depressão).

A Depressão Pós-parto (que é assim chamada por estar presente neste exato período da vida da mulher, já que traz os mesmos sintomas e características da depressão em outros momentos da vida da pessoa) geralmente é apresentada por quem não teve encerrado seus sintomas de Baby Blues (ultrapassa consideravelmente os 45 dias pós-parto) ou que apresenta sintomas já no início do período em uma intensidade que traz intenso sofrimento e chama atenção dos que estão a sua volta. A maioria dos sintomas de Depressão muitas vezes já existe durante a gestação tendo sua continuidade e cronificação após o nascimento do bebê. É uma doença e uma condição de saúde mental que deve ser tratada. Pode acontecer até o período de dois anos e se ocorrer após, é considerado “depressão” (fora do contexto do pós-parto).

Por volta de 4 a 7% da população brasileira apresenta esse transtorno. Para melhor diferenciarmos, podemos dizer que: “Não é que a Depressão Pós-parto não possa acontecer antes dos 45 dias, mas o Baby Blues não ultrapassa esse tempo de 45 dias”. A depressão pode acontecer imediatamente após o nascimento. 

Os sintomas principais incluem: Dificuldade ou recusa de maternar (cuidar) o bebê; ideias ou comportamentos que indiquem risco à sua integridade ou da criança; necessidade de manter-se isolada de todos; negligenciar suas necessidades básicas (alimentação, higiene, sono); alterações significativas de apetite (comer demais ou recusar alimentação); alterações significativas de sono; choro persistente; falta de energia para todas suas atividades diárias; afastar-se do companheiro e dos familiares; tristeza constante.

Quando observados sintomas se faz necessária uma avaliação para que seja diagnosticada e encaminhada para psicoterapia e, se necessário também para intervenção Psiquiátrica (tratamento medicamentoso). Nos casos mais graves aliar medicação e psicoterapia se mostra o ideal.

 Importantíssimo esclarecer que é comum confundir rejeição com sintoma de depressão, isso é uma crença; somente “algumas” mulheres com Depressão Pós-parto rejeitam o filho, se recusam a amamentar ou a cuidar. Mesmo apresentando esse quadro a mãe pode continuar querendo muito estar com seu bebê, cuidá-lo, sentir que o ama; o que acontece é ela não ter energia para executar esse trabalho e estimular seu bebê e isso pode ser entendido como rejeição por quem a acompanha.

E para finalizarmos, como reduzir o impacto de tantas alterações, do Baby Blues e do agravamento de possíveis sintomas pré-existentes? Ter uma REDE DE APOIO AFETIVA E EVETIVA: buscar quem vai ajudar nas tarefas domésticas, com a alimentação da família e da mãe, planejar os dias e horários das visitas, ou seja, tudo o que envolve o suporte para que a mulher também possa sem auxiliada e cuidada na sua adaptação a novíssima rotina e estar atentos a mudanças de comportamento e de humor que podem sinalizar a necessidade de cuidados especializados.

Até breve, nos vemos por aqui!

Por Luciane de Albuquerque Hörner, Psicóloga Perinatal e Parental, mãe do Rafael.

Para conhecer mais o trabalho da Luciane é só acessar o instagram @psico_luciane_horner

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