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Ambiente com estímulos adequados para o bebê

22/07/2020

Quando nascemos, nosso cérebro está pronto para aprender. Porém, se vamos e o que vamos aprender depende muito da qualidade da estimulação que nos é oferecida. Não basta que tenhamos maturidade biológica (alcançada a partir da idade) para que sejamos capazes de nos desenvolver de forma adequada. Por isto a estimulação é fundamental.

Mas o que é estimular? É despertar o interesse de alguém por algo, é encorajar, incentivar. Em outras palavras, é ajudar nossos filhos a fazerem o esforço necessário para que desenvolvam as habilidades próprias de cada etapa de seu crescimento. O desenvolvimento saudável é alcançado a partir do amadurecimento do sistema nervoso central em conjunto com o esforço empreendido pela criança para realizar os comportamentos esperados para sua idade (marcos do desenvolvimento). As crianças terão menor ou maior facilidade para realizar estes comportamentos dependendo das características oferecidas pelo ambiente em que vivem.

E como podemos estimular o desenvolvimento de nossos filhos? Oferecendo a eles um ambiente com estímulos adequados às suas necessidades, que vão variar em função da idade. Para que compreendamos melhor como deve ser este ambiente, é importante que nós mães entendamos que estímulos são características (ações, objetos, eventos) presentes no ambiente onde a criança se encontra e que despertam o interesse e desejo dela por executar um determinado comportamento. Não se trata de encher o local onde a criança está de coisas ou de ficar realizando atividades com nossos filhos a todo momento. Para que algo funcione como estímulo é preciso que haja, antes, privação. Isto porque quando já estamos satisfeitos, quando já conseguimos o que queríamos, não temos por que fazer um esforço para ir em busca daquilo que já temos, não é verdade?

Para que possamos oferecer um ambiente com estímulos adequados aos nossos filhos precisamos:

  • Conhecer os comportamentos esperados para cada idade;

  • Preparar o ambiente em que as crianças ficam de forma que elas possam ter liberdade para aprender e praticar os comportamentos típicos de cada fase de seu desenvolvimento;

  • Compreender a importância da privação para que seja experimentada e conhecida a necessidade de algo para que, então, a criança passe a buscar ativamente a satisfação dessa necessidade e, com isso, aprenda os comportamentos esperados para sua idade.

Podemos conhecer os comportamentos esperados para cada idade  verificando as tabelas para acompanhamento do desenvolvimento infantil presentes nas cadernetas de vacinação do Ministério da Saúde, pesquisando na internet e perguntando a um pediatra. Saber disso nos ajuda tanto na estimulação quanto no melhor acompanhamento do crescimento de nosso filho.

A preparação do ambiente em que a criança fica é necessária para que seja possível a ela executar os comportamentos típicos da idade. Por exemplo, ter um espaço em que seja possível deixar a criança rolar, engatinhar, andar, pegar objetos, abrir e fechar portas e gavetas, ter contato com diferentes texturas, sem que tenha risco de sofrer algum acidente. A preparação do ambiente exige, ainda, tolerância das mães à bagunça, desorganização e sujeira, muitas vezes. Precisamos nos lembrar que criança precisa de espaço para se desenvolver e este espaço diz respeito mais ao que estamos dispostas a tolerar para que nossos filhos façam seu processo de descobertas do que ao espaço físico em si de que dispomos. De nada adianta oferecer uma varanda ampla e segura a nossos filhos se não nos dispomos a vê-los limpando o chão com o bumbum enquanto se arrastam para ir pegar um brinquedo, por exemplo. 

E, por fim, para que sejamos capazes de estimular nossos filhos precisamos compreender que não podemos ficar adivinhando e nos antecipando para atender seus desejos e necessidades a todo momento se queremos que eles se desenvolvam de forma saudável. Aprendemos a rolar, quando estamos deitados de barriga pra cima e algo ao nosso lado nos chama a atenção e queremos nos virar para ver melhor e tentar alcançar. Aprendemos a comer na hora certa e alimentos saudáveis quando nos deixam esperar um pouco entre uma refeição e outra e não nos oferecem outra coisa se não o que deveríamos comer no almoço. Aprendemos a falar quando vemos algo de nosso interesse que não alcançamos sozinhos e vemos a necessidade de nos comunicar para conquistar o objeto. Mas se, ao ver nossa dificuldade, nossos pais se adiantam para nos dar o que queremos, não há motivo para que façamos o esforço para aprender nenhum desses comportamentos.

Crianças choram e fazem birra para comunicar sua insatisfação e suas necessidades. Seremos tão capazes de oferecer um ambiente com estímulos adequados quanto formos capazes de entender que são as pequenas privações (também chamadas frustrações) que aguçarão o interesse das crianças por irem em busca do que desejam, por fazerem o esforço necessário para aprenderem os comportamentos típicos de cada idade.

Não é o que fazemos por nossos filhos ou os objetos que lhes oferecemos que torna o ambiente estimulante. Mas, sim, nossa capacidade de deixá-los fazer o esforço necessário para conquistarem o que desejam, abrindo mão de uma dose (muitas vezes exagerada) de organização e limpeza da casa.

Por Gisele Silva Corrêa, Neuropsicóloga e mãe do Apolo.

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